06 dezembro 2007

Como Fazer a Defesa de um Projeto

por David Sleight

Um dos maiores desafios que qualquer designer enfrenta é articular sua intuição. Explicar com clareza o como e o porquê do projeto – associando palavras a coisas que você acha óbvias – pode ser complicado. Agora tente fazer isso sob pressão, cara a cara com o seu patrão ou cliente que simplesmente não tem tempo para perder.

A boa notícia é que designers já têm o que é preciso para fazer uma apresentação sobre pressão. É algo intrínseco ao trabalho. Um bom design é iterativo, remove-se todo o desnecessário até restar apenas valores reais. Uma boa apresentação, independente do contexto, não tem grandes diferenças. Tudo que é preciso é praticar um pouco para manter o foco durante a reunião.

O sistema amigo

Como diz o velho ditado, a prática leva à perfeição. E não há muito a saber sobre praticar. Não é preciso arriscar a vida ou o projeto. Não é preciso reuniões formais. Apenas perguntar aos colegas “O que você acha?” é suficiente para começar.

Você não tem que concordar com tudo que ouvir. Use as questões dos seus colegas para ter uma visão diferente da sua, veja o trabalho sobre outras perspectivas. Ser detonado pela crítica de outro designer pode ajudar, apesar de ser pura crueldade. Contudo, é melhor escutar antes do que durante a apresentação.

Tente discutir racionalmente todas as críticas. Explique suas decisões. E nunca use “simplesmente funciona”. Pense mais em “esse layout conduz o olhar para as áreas mais importantes da página”. Chegar ao fundo dos porquês é a chave.

Lembre-se, só porque o design pode ser subjetivo não quer dizer que não existem bases. Em algum lugar lá no fundo, você está fazendo decisões enquanto projeta, sejam essas conscientes ou não. O truque é trazer essas decisões à tona.

Quando estiver listando os pontos da apresentação, concentre-se na utilidade como um caminho para explicar suas decisões para a platéia. (E não esqueça que a estética pode ter utilidade também!) Selecione elementos menos importantes no seu design e pergunte a si mesmo “pra que isso serve?”, melhor ainda “para que isso é útil ao usuário”. Se você se esforçar honestamente para responder essas perguntas e terminar sem palavras para respondê-las, é provável que você precise voltar ao rascunho.

Pronto em 30 segundos

Agora que você coletou informações construtivas, é hora de se acostumar a estar na berlinda. Pegue um relógio, veja os segundos passando e mantenha o seguinte princípio em mente: depois que você terminar seu discurso inicial, você só tem 30 segundos para responder a qualquer pergunta.

Dureza? É a realidade (30 segundos é muito mais tempo de conversa do que você pensa!). Às vezes você pode precisar de mais, em outras de menos. O mais importante, no fim das contas, é que grandes silêncios soam muito mal.

Nesse momento é que as informações que você coletou valem ouro. São grandes as chances das perguntas do seu cliente já haverem sido feitas por algum dos seus colegas. Usando os melhores pontos das conversas anteriores, e resumindo eles em algumas sentenças cada um, você estará pronto para lidar com os mais difíceis comentários. Novamente, pense no relógio quando estiver preparando a apresentação e tudo sairá bem.

Se existir algo verdadeiramente genial no seu design que faz com que você se derreta em elogios, é melhor evitar. É importante entender que uma conversa prolongada não é benéfica. Todos somos pessoas ocupadas. Mesmo na rara situação do seu projeto ser a coisa mais importante acontecendo, nunca será a única. Se o tempo extra for desejado, espere que seja requisitado.

Preparando o terreno

A próxima dica não é revolucionária em nada, mas pode ser esquecida com freqüência: separe um tempo para pesquisar sobre sua platéia, mesmo que seja só um pouco.

Você não deve entrar num jato armado sem saber que botões podem causar um incidente internacional, e você certamente não deve ir para uma reunião importante sem saber algo sobre sua audiência. É para o seu próprio bem que você deve descobrir o máximo possível sobre as pessoas que vão estar com você na mesa de reunião. O importante é saber o que é apropriado e diminuir a possibilidade de acontecerem imprevistos.

Existem grandes possibilidade de alguém já conhecer essas pessoas (é estatisticamente certo no caso de ser um cliente interno). Tente acessar a memória da instituição, começando pelo seu supervisor ou por um colega de trabalho. Eles já conhecem o cliente? Já lidaram com ele anteriormente? Caso não, eles poderão indicar alguém que sim. Se você for o chefe (sorte sua!), ou um autônomo, você já estará lidando com alguém da empresa que poderá fornecer referências.

Uma vez que você tenha encontrado sua fonte, investigue sobre coisas relacionadas ao comportamento em reuniões, negociações anteriores, histórias da empresa. Para que fique claro, não seja invasivo. Não há motivo para contratar um detetive particular ou elaborar um dossiê. Basta apenas o suficiente para dar uma noção de como proceder.

Agora que você já sabe alguma coisa sobre o cliente, não enlouqueça tentando antecipar as ações dele. Mantenha-se concentrado no temas principais. Uma forte reputação para uma abordagem conservadora? Quem sabe voltar a usar marcas dançando. Festa do pijama? Tudo bem, pense mais além. Essa previsão de bizarrices que estão por vir impede que você fique ofuscado por extravagâncias do cliente, como fazer reuniões na esteira do escritório (ria enquanto pode – é engraçado até acontecer com você). Imaginar cenários inusitados pode evitar que você fique sem ação diante de algo inesperado.

Resumindo

O mais importante de toda essa preparação é tornar você um melhor designer em todos os momentos, não apenas quando você está na berlinda. Desenvolver uma comunicação limpa e concisa é provavelmente uma das coisas mais importantes que você fará para a sua carreira.

Através da prática, você se tornará mais adepto do ajuste fino da abordagem ao público-alvo. Apesar de que os blocos fundamentais estarão sempre lá. Encontre a mensagem, depois a apresente à sua audiência com clareza e velocidade.

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Este artigo foi publicado originalmente na edição 237 da A List Apart e pode ser acessado aqui.

Traduzido por José Pirauá.

4 Comments:

Blogger Rodrigo Teixeira said...

Show de bola o artigo traduzido!

9:20 AM  
Blogger Felipe Setlik said...

30 segundos cada resposta? isso não te pertence mais! só se estiver apresentando numa seção do Senado.

Se passar de 20 segundos é porque o bagulho ta muito confuso! a apresentação sim q deve estar bem feita.

7:15 PM  
Anonymous Anônimo said...

Bom achei bastante inteligente esse post, na verdade me ajudor bastante em uma reunião que tive, mas após esta reunião notei que realmente essa lei dos 30 segundo não é mais valida, porque a cada dia que passa os design ficam mais robustos ou seja complicados, e principalmente para quem nao entende bulufas de design, entao para nos design o tempo de resposta irá so aumentar com o passar do tempo, pois nem todo cliente entende de web e muito menos de design...
mas parabens pelo blog.
e adote esse meu comentário como uma critica contrutiva.
abraço

3:56 PM  
Blogger Andy Montoya said...

Muito bacana o artigo, realmente essa dificuldade de apresentação é figura carimbada entre designers, pior ainda quando se junta ao fato de falar em público, que segundo pesquisas é um dos maiores medos do ser humano.

AndyMontoya.com

5:48 PM  

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