26 dezembro 2007

Interação Homem-Homem

por Sharon Lee

Não é nenhuma novidade dizer que vivemos numa era em que a sobrevivência dos negócios depende da habilidade em se comunicar efetivamente através da internet.

A novidade é a percepção de que somente possuir um website antigo não é o suficiente. A qualidade do seu site e a natureza de seu conteúdo são primordiais e sua habilidade de comunicação com seu público é a chave.

Um bom website é construído em duas verdades básicas – que a internet é uma mídia interativa e que o usuário final é na verdade um ser humano. Em outras palavras, ela deve ser uma experiência. Assim como numa aventura, um pouco de pensamento estratégico é necessário para garantir que a experiência seja prazerosa.

Me Respeite

Lembre-se que a pessoa do outro lado da tela é um ser humano. Eles querem saber que sua empresa os entende.

Separe um tempo para descobrir quem são eles e do que eles gostam. Depois trabalhe seu texto e seu design para atendê-los. Uma analogia com o mundo real seria a aproximação que você faz para iniciar uma conversa numa festa (uma pessoa com quem você espera se tornar amigável). Seria bom você ouvir atentamente aos interesses desta pessoa e ajustar sua conversa a ela. Você não iria chateá-la com uma longa explicação sobre CSS ou Ajax num sábado à noite, iria?

Tente pensar além da demografia e visualize o individual. Muitos briefings contém uma descrição muito abrangente do público-alvo. Durante a reunião de briefing, tente estreitar o foco. Um briefing pode começar com:

Público da Intranet: Agentes de 20 a 50 anos de idade

Isto pode ser dividido num público primário e outro secundário, como abaixo:

Público Primário da Intranet: de 20 a 35 anos (agentes de vendas)

Público Secundário da Intranet: de 35 a 50 anos (gerentes plenos e seniors)

A partir deste ponto, ajuda bastante se você se colocar no lugar do agente e se logar na intranet com um copo de café na mão meia hora antes de começar a procurar suas casas em aberto. Você vê seu desejo de animações em flash desaparecerem como fumaça? Você vê como o “vá direto ao ponto e seja óbvio” se torna uma diretiva? E quanto à necessidade de personalização, para que o agente possa ver o que ele precisa imdiatamente, como por exemplo, compromissos do dia, contatos e seu fluxo de vendas?

Fechando a lacuna entre você e seu público te ajudará a tomar decisões corretas e ajustar o design às suas necessidades.

Me Conte uma História

Utilize uma das maneiras mais antigas e eficazes de transmitir conhecimento em seu site.

Contar histórias é uma maneira rica e interativa de envolver o usuário no design, provocar uma resposta emocional, ou aumentar a experiência de aprendizagem de um usuário. A pergunta a se fazer é:

"Existe alguma maneira mais criativa de apresentar a informação necessária e que aumente o envolvimento do usuário?"

Sites de notícias estão cada vez mais enfrentando este desafio. No passado, uma boa história poderia ser uma única página de texto. Agora ela pode ser enriquecida com multimídia para oferecer formas alternativas de se ver a história, incluindo linhas de tempo interativas, web-cams, animações, áudio e vídeo. Estes elementos podem oferecer ao público um entendimento mais abrangente e profundo sobre o tópico e as questões que o rodeiam.

A coisa mais impressionante em usar a internet para contar uma história é que ela pode ser não-linear – o usuário pode clicar para ver os fragmentos da informação que lhe interesse, ao invés de ver a história toda do começo ao fim. Ao contar uma história através da interação com o usuário, você permite que ele escolha seu próprio caminho de acordo com suas preferências e necessidades.

Me Anime

Conforme a banda larga se torna mais popular, os web designers começam a combinar cada vez mais o design visual com interação e movimento. Seu papel se tornou menos o de um designer e mais o de um diretor de experiências. Para ilustrar as diferenças entre esses papéis, vamos ver como a direção de criação de um design pode ser descrita:

"Para promover seu ponto forte, que é o conteúdo local sobre entretenimento, vamos incluir a paisagem de cada cidade com sua marca."

A direção de uma experiência, por outro lado, precisaria de mais documentação na etapa de conceituação. Um diretor de experiência deve juntar o conteúdo, formular um estilo interativo e orquestrar os elementos criativos sobre os quais a história será contada. Os web designers do futuro podem até precisar escrever situações de experiências, mesclando o processo de design com o de direção de cinema.

Ao entender a experiência do usuário como um todo, os designers podem criar uma experiência rica e sensorial, que podem imergir os usuários e encorajá-los a ficarem completamente envolvidos com o site e seu conteúdo. Quando o objetivo do site é educar, a imersão é muito importante, pois ela pode aumentar a velocidade de aprendizagem e o entendimento geral – principalmente quando os usuários principais de um site são crianças.

Através da imserão, o usuário experimenta prazer e satisfação: qualidades positivas que serão transferidas para sua marca.

Me Inspire

Algumas pessoas acreditam que o web design começa e termina com logotipia. Suas visões são que a identidade visual da marca é facilmente aplicada à web através da transferência de elementos comuns como o logo, as cores e a tipografia.

Realmente, muito do tráfego do seu site serão pessoas que conhecem ou escolheram sua marca no mundo real. Então quando elas entram no seu mundo virtual, é uma boa oportunidade de reforçá-la.

No entanto, seu site pode fazer muito mais que copiar sua identidade. Ele pode encapsular a personalidade da marca, seja ela inspiradora, confiável ou autoritária. Estas características são parte da razão para que seu público tenha escolhido a sua marca.

Durante a filmagem de “Os Desajustados” (Withnail and I), o diretor pediu ao ator principal Richard E. Grant para “manchar a película”, querendo dizer para ele ir fundo, sem meias palavras. É um bom conselho para quando você quer inspirar seu público e fazer com que ele tome uma ação – não seja bem educado, agarre-os pela garganta – e traga vida à sua marca!

Me Encante

Um belo design dará ao usuário a impressão que o site é fácil de usar, mesmo que não seja. Além disso, é mais provável que o design seja usado porque a psique humana é inexoravelmente dirigida pela beleza.

Sites transacionais geralmente falham miseravelmente no campo estético. O pensamento predominante é que é o domínio do consultor de usabilidade – que o design é secundário e geralmente confinado à “coloração” das células.

Ainda assim, processos e páginas altamente complexos podem parecer simples com o estilo correto. O espaçamento se torna muito importante por deixar os olhos do usuário descansarem antes de irem para o próximo bloco de informação. O design pode criar uma ordem e um sentimento de paz e serenidade – atributos positivos quando você está pedindo que seu usuário preencha um formulário extenso. O design profissional também pode aumentar o nível de confiança dos usuários, a característica mais importante para se ater em qualquer site transacional.

Se você não é um profissional de design visual, você pode conseguir confiança e lealdade consultando um designer de alto nível para sites de negócio crítico ou transacionais.

Os princípios de boas interfaces homem-computador são simplicidade, suporte, clareza, encorajamento, satisfação, acessibilidade, versatilidade e personalização. Embora seja essencial manter estes princípios, também é importante simpatizar e inspirar seu público para que ele sinta que você não o está tratando como um usário sem rosto, mas sim como um ser humano. Fazendo isso, você irá aumentar sua afinidade com o design e conseguir atitudes positivas com relação à sua marca, empresa e produto.

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Este artigo foi publicado originalmente na edição 240 da A List Apart e pode ser acessado aqui.

Traduzido por Luciano Rodrigues.

06 dezembro 2007

Como Fazer a Defesa de um Projeto

por David Sleight

Um dos maiores desafios que qualquer designer enfrenta é articular sua intuição. Explicar com clareza o como e o porquê do projeto – associando palavras a coisas que você acha óbvias – pode ser complicado. Agora tente fazer isso sob pressão, cara a cara com o seu patrão ou cliente que simplesmente não tem tempo para perder.

A boa notícia é que designers já têm o que é preciso para fazer uma apresentação sobre pressão. É algo intrínseco ao trabalho. Um bom design é iterativo, remove-se todo o desnecessário até restar apenas valores reais. Uma boa apresentação, independente do contexto, não tem grandes diferenças. Tudo que é preciso é praticar um pouco para manter o foco durante a reunião.

O sistema amigo

Como diz o velho ditado, a prática leva à perfeição. E não há muito a saber sobre praticar. Não é preciso arriscar a vida ou o projeto. Não é preciso reuniões formais. Apenas perguntar aos colegas “O que você acha?” é suficiente para começar.

Você não tem que concordar com tudo que ouvir. Use as questões dos seus colegas para ter uma visão diferente da sua, veja o trabalho sobre outras perspectivas. Ser detonado pela crítica de outro designer pode ajudar, apesar de ser pura crueldade. Contudo, é melhor escutar antes do que durante a apresentação.

Tente discutir racionalmente todas as críticas. Explique suas decisões. E nunca use “simplesmente funciona”. Pense mais em “esse layout conduz o olhar para as áreas mais importantes da página”. Chegar ao fundo dos porquês é a chave.

Lembre-se, só porque o design pode ser subjetivo não quer dizer que não existem bases. Em algum lugar lá no fundo, você está fazendo decisões enquanto projeta, sejam essas conscientes ou não. O truque é trazer essas decisões à tona.

Quando estiver listando os pontos da apresentação, concentre-se na utilidade como um caminho para explicar suas decisões para a platéia. (E não esqueça que a estética pode ter utilidade também!) Selecione elementos menos importantes no seu design e pergunte a si mesmo “pra que isso serve?”, melhor ainda “para que isso é útil ao usuário”. Se você se esforçar honestamente para responder essas perguntas e terminar sem palavras para respondê-las, é provável que você precise voltar ao rascunho.

Pronto em 30 segundos

Agora que você coletou informações construtivas, é hora de se acostumar a estar na berlinda. Pegue um relógio, veja os segundos passando e mantenha o seguinte princípio em mente: depois que você terminar seu discurso inicial, você só tem 30 segundos para responder a qualquer pergunta.

Dureza? É a realidade (30 segundos é muito mais tempo de conversa do que você pensa!). Às vezes você pode precisar de mais, em outras de menos. O mais importante, no fim das contas, é que grandes silêncios soam muito mal.

Nesse momento é que as informações que você coletou valem ouro. São grandes as chances das perguntas do seu cliente já haverem sido feitas por algum dos seus colegas. Usando os melhores pontos das conversas anteriores, e resumindo eles em algumas sentenças cada um, você estará pronto para lidar com os mais difíceis comentários. Novamente, pense no relógio quando estiver preparando a apresentação e tudo sairá bem.

Se existir algo verdadeiramente genial no seu design que faz com que você se derreta em elogios, é melhor evitar. É importante entender que uma conversa prolongada não é benéfica. Todos somos pessoas ocupadas. Mesmo na rara situação do seu projeto ser a coisa mais importante acontecendo, nunca será a única. Se o tempo extra for desejado, espere que seja requisitado.

Preparando o terreno

A próxima dica não é revolucionária em nada, mas pode ser esquecida com freqüência: separe um tempo para pesquisar sobre sua platéia, mesmo que seja só um pouco.

Você não deve entrar num jato armado sem saber que botões podem causar um incidente internacional, e você certamente não deve ir para uma reunião importante sem saber algo sobre sua audiência. É para o seu próprio bem que você deve descobrir o máximo possível sobre as pessoas que vão estar com você na mesa de reunião. O importante é saber o que é apropriado e diminuir a possibilidade de acontecerem imprevistos.

Existem grandes possibilidade de alguém já conhecer essas pessoas (é estatisticamente certo no caso de ser um cliente interno). Tente acessar a memória da instituição, começando pelo seu supervisor ou por um colega de trabalho. Eles já conhecem o cliente? Já lidaram com ele anteriormente? Caso não, eles poderão indicar alguém que sim. Se você for o chefe (sorte sua!), ou um autônomo, você já estará lidando com alguém da empresa que poderá fornecer referências.

Uma vez que você tenha encontrado sua fonte, investigue sobre coisas relacionadas ao comportamento em reuniões, negociações anteriores, histórias da empresa. Para que fique claro, não seja invasivo. Não há motivo para contratar um detetive particular ou elaborar um dossiê. Basta apenas o suficiente para dar uma noção de como proceder.

Agora que você já sabe alguma coisa sobre o cliente, não enlouqueça tentando antecipar as ações dele. Mantenha-se concentrado no temas principais. Uma forte reputação para uma abordagem conservadora? Quem sabe voltar a usar marcas dançando. Festa do pijama? Tudo bem, pense mais além. Essa previsão de bizarrices que estão por vir impede que você fique ofuscado por extravagâncias do cliente, como fazer reuniões na esteira do escritório (ria enquanto pode – é engraçado até acontecer com você). Imaginar cenários inusitados pode evitar que você fique sem ação diante de algo inesperado.

Resumindo

O mais importante de toda essa preparação é tornar você um melhor designer em todos os momentos, não apenas quando você está na berlinda. Desenvolver uma comunicação limpa e concisa é provavelmente uma das coisas mais importantes que você fará para a sua carreira.

Através da prática, você se tornará mais adepto do ajuste fino da abordagem ao público-alvo. Apesar de que os blocos fundamentais estarão sempre lá. Encontre a mensagem, depois a apresente à sua audiência com clareza e velocidade.

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Este artigo foi publicado originalmente na edição 237 da A List Apart e pode ser acessado aqui.

Traduzido por José Pirauá.